Santuário do Bom Jesus do Monte – Braga

“De onde és?”

“De Braga!”

“A sério? Eu fui lá de pequeno com os meus pais! Fomos ao Bom Jesus e tudo!”.

Assim começam muitas das minhas conversas com pessoas (sobretudo) do centro e sul do país.

O Bom Jesus é uma visita incontornável para todos os que vêm a té Braga e, como tinha comentado no último artigo sobre os 20 sítios que visitar em Braga, é também o meu local favorito de toda a cidade. Imagino que, como a muitas outras pessoas nascidas e criadas em Braga, este espaço traz-nos memórias excepcionalmente boas e divertidas: dar de comer aos peixes no lago em frente ao Hotel do Elevador, tentar ver Braga por um canudo, tirar uma foto em cima do cavalo de peluche, andar nos barquinhos, montar a cavalo, andar no elevador (e ter medo que aquilo despencasse) etc etc etc.

Assim sendo, e porque acho que o santuário deve ser promovido a Património UNESCO, decidi fazer uma entrada só sobre o Bom Jesus de Braga.

Apesar de desde o século XIV existirem vestígios de ocupação desta zona, foi apenas em 1722 que o Arcebispo de Braga, D. Rodrigo de Moura Teles, mandou construir o Santuário que, após vários processos de construção e reformas, chegou ao que hoje conhecemos como Santuário do Bom Jesus do Monte.

Igreja

A igreja, obra de Carlos Amarante, começou a ser construída a 1 de Junho de 1784 e ficou pronta em 1811, mas apenas em 1834 foi consagrada.

Antes do Arcebispo, em 1629 havia já sido criada a Confraria do Bom Jesus do Monte, que construiu uma capela onde colocou uma imagem do Cristo crucificado, assim como as primeiras capelas do Passos da Via Cruxis, dedicados aos episódios da Deposição da Cruz, Deposição no Túmulo, Ressureição e Ascensão.

Escadórios e Capelas

Quem já subiu os escadórios do Bom Jesus que comente no final! De facto, eu acho que “ir a pé ao Bom Jesus” e “subir os Escadórios” deveriam ser considerados um desporto típico da cidade de Braga. Acho que este é o ginásio da cidade com mais subscritores… Mas agora que o “ir correr” se chama “running” e o “ir andar” é conhecido por “footing”, deveríamos adaptar o nome destes desportos tão típicos de Braga para “Bom Jesusing” e “Escadoring”! Quem concorda?

Os escadórios vencem um desnível de 116 metros e estão divididos em três lanços importantes:

– Escadório do Pórtico, lanço inicial onde se encontram as primeiras capelas da Via Sacra;
– Escadório dos Cinco Sentidos, cujas fontes representam os cinco sentidos (visão, audição, olfacto, paladar e tacto) e que conta também com a Fonte das Cinco Chagar;
– Escadório das Três Virtudes, dedicado à Fé, Esperança e Caridade (Virtudes Teologais).

O Escadório tem 581 degraus e termina no Terreiro de Moisés, onde encontramos a Fonte do Pelicano e a estátua de São Longuinho. Um pouco mais acima encontramos o Adro da igreja com as suas 8 estátuas de personagens bíblicos ligados à paixão de Cristo (Anás, Caifás, Herodes, Pilatos, José de Arimateia, Nicodemos, Centurião e Pilatos).

Via Sacra

A Via Sacra é composta por 17 capelas que estão distribuídas pelos escadórios, Terreiro de Moisés, Igreja do Bom Jesus, escadas em direcção ao parque e pelo Terreiro dos Evangelistas.

As capelas foram mandadas construir pelo arcebispo de Braga D. Rodrigo de Moura Teles. Apenas as 2 primeiras são as originais, todas as outras foram reconstruídas posteriormente.

Escadórios: 10 capelas

Cenáculo – Representação da última ceia
Horto – Episódio do Monte das Oliveiras
Prisão – Traição de Judas
Trevas – Cristo sentado numa pedra com as mãos atadas e os olhos vendados
Açoutes – Cristo atado a uma coluna
Coroação – Coroa de espinhos
Pretório – Pretório de Pilatos quando apresenta Jesus “Ecce Homo”
Caminho do calvário – Cristo levando a cruz aos ombros
Queda – Queda de jesus, amparado por Cireneu
Crucificação – Crucificação de Cristo (Imagens originais do séc XVIII)

Terreiro de Moisés: 2 capelas

Elevação – Cristo pregado na cruz a ser erguido sobre o calvário
Descida – Descida de Jesus da cruz

Igreja do Bom Jesus

No altar da Igreja do Bom Jesus está representada a crucificação de Cristo. Na minha opinião é o altar-mor mais bonito de todos os que conheço.

Últimas capelas: 2 capelas

Unção ou das Lágrimas – unção de Jesus antes de ser sepultado
Ressurreição – Ressuscitar de Jesus enquanto os guardas dormem

Terreiro dos Evangelistas: 3 últimas capelas

Aparição a Maria Madalena – Aparição de Cristo a Maria Madalena
Casa de Emaús – Representação do interior de uma casa burguesa do séc XVIII, com Jesus sentado à mesa
Ascensão – A última capela representa a ascensão de Jesus Cristo aos céus, numa nuvem cercada de anjos, no monte das Oliveiras.

Elevador

O Elevador é um dos grandes ex-libris do Bom Jesus, sem dúvida nenhuma!

Foi mandado construir por Manuel Joaquim Gomes para ligar a parte alta da cidade de Braga ao santuário, evitando o sobreesforço dos cavalos utilizados nos americanos de Braga (veículos sobre carris puxados por cavalos), que muitas vezes tinham de ser ajudados por uma junta de bois extra para conseguir levar os passageiros através da estrada do santuário.

Foi inaugurado a 25 de Março de 1882, é o único na Península Ibéria e um dos sete deste género existentes em todo o mundo, sendo também o mais antigo do mundo que continua a funcionar nos dias de hoje com o sistema de contrapeso de água.

Curiosidades:

– As viagens são feitas de 30 em 30 minutos e custam 1,20€ a viagem simples e 2€ a viagem de ida e volta;
– Demora entre 2,5 e 4 minutos a fazer o percurso, dependendo da quantidade de gente que transportem;
– Corre num percurso paralelo ao dos Escadórios, vencendo um desnível de 116 metros e uma inclinação de 42%;
– O cabo pesa 1500kg;
– Cada carro pesa 5 toneladas, leva até 38 pessoas (30 sentadas) e tem um depósito de água de 5850 litros;
– O horário de funcionamento é das 08h00 às 20h00, 7 dias por semana.

Como funciona?

As 2 cabines estão ligadas por um cabo e cada uma delas tem, na parte de baixo, um depósito de água. O depósito da cabine que está no cimo do monte é enchido de água (o volume depende da quantidade de passageiros), enquanto que o depósito da cabine que está no fundo da encosta é esvaziado. Com esta diferença de peso, e por acção da gravidade, assim que os “maquinistas” soltam os travões a cabine que está no cimo da encosta começa a descer e empurra a outra para cima.

O elevador termina a sua viagem ao lado da estátua de São Longuinho, um dos meus locais favoritos de toda a zona. Quando ainda vivia em Braga, este era um dos nossos locais favoritos para passar uma noite de verão na conversa, com as luzes da cidade de fundo e sem muita gente por perto. (e pelos vistos não eramos os únicos a pensar assim! Em algumas noites a zona tinha vários grupos de amigos com o mesmo plano que nós!)

São Longuinho

A estátua de São Longuinho também é especial. É a única estátua equestre em Portugal feita em pedra e representa São Longuinho, um dos soldados romanos presentes na crucificação de Jesus e que depois se converteu.

Está localizada em cima de um pedestal de pedra onde em tempos existiu a torre da primitiva igreja do Bom Jesus e foi uma oferta de Luis de Castro de Couto em 1819.

Na tradição popular brasileira, o São Longuinho é venerado por ajudar a encontrar objectos perdidos, basta recitar “São Longuinho, São Longuinho, se eu achar (nome do objecto perdido) dou três pulinhos.” e cumprir a promessa dos 3 pulos depois de encontrar o objecto.

Parque e Lago

Na envolvente do Santuário encontramos um grande parque arborizado, com grutas feitas de cimento armado, vários lagos (um deles com barcos para alugar), parque infantil e mesas para picnic.

Na parte mais alta do parque, em frente ao Grande Hotel, há cavalos para alugar e dar uma voltinha pelas imediações. Há quem lhes chame “os burros do Bom Jesus”, porque alguns deles são tão velhinhos e têm uma aparência tão fraquinha… Coitados!

Os terrenos onde se situa o parque, antes baldios, foram doados ao santuário em 1806.

Canudo, Gruta e “lago”

Apesar de não serem uma zona “per se” do Santuário, são 3 referência que, pelo menos para mim, têm bastante importância.

Nunca ouviram a expressão “ver Braga por um canudo”? Bem-vindos à localização do canudo!

O ‘Canudo’ é o nome de um monóculo que foi instalado no início do século XX numa pequena varanda virada para a cidade, mesmo ao lado do Elevador do Bom Jesus. Dada a sua localização, é possível ver a cidade de Braga com bastantes pormenores. Para os que desconhecem a expressão, “ficar a ver Braga por um canudo” significa “ver as espectativas frustradas” ou “não conseguir o que se quer” (diferente de “morrer na praia”, um dos significados que se dá erroneamente a esta expressão).

A Gruta da qual falo é a que está à esquerda da Casa das Estampas, com o Coreto por cima.

É um local divertido, feito de cimento e sem grandes coisas dentro, mas que nos anos 90 levava a minha imaginação para bem longe! Além disso a vegetação que cresce à sua volta é maravilhosa e o sítio na primavera fica bem bonito. Quem nunca tirou uma foto com a gruta como pano de fundo? Tão típica como a foto no cavalinho de peluche!!

O “lago” na realidade não é mais do que uma fonte, a que se encontra entre o Hotel do Elevador e o Canudo. Mais um sítio súper típico para as crianças bracarenses que visitavam o Bom Jesus (pelo menos durante os anos 90…). De certeza que se lembram de dar de comer ao peixes… 😉

E por falar em fotos no cavalinho de peluche… Deixo-vos um repto: mostrem-nos as vossas fotos no cavalo do Bom Jesus! Podem mandar para o mail susana@falardeviagens.com ou deixá-las nos comentários! 🙂 Vamos fazer uma colecção destas fotos tão típicas!

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